O Morcego

Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, ved:
Na bruxa ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

“Vou mandar levantar outra parede...”
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre minha rede!

Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo, Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!


A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!

Augusto dos Anjos


3 comentários:

JARBAS MORENO disse...

ESTE POEMA DE AUGUSTO É A VERDADEIRA IMAGEM DA REALIDADE, SEI DE PESSOAS QUE NÃO TÊM UM PINGO DE CONSCIÊNCIA A PONTO DE ACREDITARÊM QUE CONSIGAM DORMIR.

Unknown disse...

Não conhecia esse. Augusto dos Anjos é um dos mais sinceros e excêntricos poetas.

Unknown disse...

Hum.. prefiro os que você escreve...